quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A Paixão e o Tempo


É tão difícil falar da paixão, mas ao mesmo tempo é fácil, pois todos os seres humanos, ou pelo menos aqueles que se deixam levar por uma emoção contagiante como ela, passam por isso. A paixão é diferente do amor em dois aspectos. A paixão é algo que te domina. Ninguém se coordena quando está apaixonado. Ninguém sabe o que fazer quando a pessoa por quem sentimos algo mais do que uma simples amizade chega perto. É temporária, mas mesmo sendo por pouco tempo, ela não deixa de ser intensa.

O amor é diferente. O amor é permanente. Não existe fim para ele. E algo que é muito mais considerável: o amor não é sentimento. É verdade! É comportamento. Mas como assim? Ele é comportamento porque tu convives com uma pessoa, aliás, com várias e tu as respeita. Tu as admiras, não todas, mas algumas. Tu és amigo de umas. Tu as escutas e as critica, quando necessário. Isso é o amor. Na bíblia está escrito que devemos amar e respeitar uns aos outros. Não foi dito isso para que na próxima esquina que dobrarmos, devemos beijar, abraçar qualquer pessoa. Não! Foi dito para que tenhamos respeito, consideração, admiração, amizade uns aos outros. Isso é o amor.

No casamento, por exemplo. Um casal com 20 anos de matrimônio não está apaixonado. Eles estão se amando, se doando, cedendo um ao outro. Estão se respeitando (a maioria). Eles se amam. Mas a paixão não faz mais parte do cotidiano dos mesmos. O motivo é simples: passou o tempo dela. Como disse, é passageira.

É difícil falar da paixão porque ela não tem forma, e nem podemos tocá-la fisicamente. Porém, tem gosto de quero mais e se apresenta na cor vermelha intensamente forte. Ela é perfeita. É forte e nos deixa sem chão e sem limites. Queremos uma pessoa e não enxergamos outras à nossa volta. Queremos estar com alguém o tempo todo. Queremos saber como a pessoa está e onde está se não estamos presentes com a mesma.

Aí é que está o perigo da paixão! Não ser correspondido tem um gosto amargo e profundo. Um gosto parecido com aqueles xaropes que as nossas mães nos davam para tomarmos quando éramos crianças, que depois de bebermos empurrávamos um gole d’água para tirar o amargo indescritivelmente ruim da boca. Esta paixão, apesar de não haver reciprocidade, não deixa de ser intensa, até que dure. E é tão ruim quando desejamos estar com alguém e este alguém não pensar dessa forma. É péssimo saber que estamos pensando em alguém que não pensa em nós.

Mas ao mesmo tempo em que ficamos tristes quando isto acontece devemos ficar felizes, pois triste, realmente, é aquele que não se deixa levar pelas emoções e não se entrega a alguém, mesmo que esse alguém não queira nada mais do que amizade. Isso faz parte da vida. Aliás, a vida é assim. E, para esta paixão avassaladora, devemos deixar o “efeito” passar. Devemos curtir esse momento por mais que seja difícil. Devemos pensar. É engraçado, pois me falaram que pensar não leva a nada, pois quem age obtém respostas e não quem pensa. Então, se quiseres pensar ou agir... Só depende de ti, mas a resposta para a tua ação depende da outra ou outro.

Pensar em alguém que não pensa em nós é uma experiência dramática. Ver a pessoa sorrindo com outras pessoas é uma nos deixa com raiva, pois queremos que não hajam risadas, amigos e nada mais na vida desta pessoa. Realmente, queremos que ela esteja se sentindo infeliz, como nós. Porém, não podemos esquecer que o mundo não pára e lá fora há mais pessoas solteiras. Mais mulheres e homens.

A paixão correspondida é linda. É uma coisa que não há explicação. Sentimo-nos como o “super homem” para quem é homem e as mulheres se sentem a “mulher maravilha” (não sei se as mulheres se sentem assim. Creio que sim. Mas como sou homem eu apenas imagino como se sintam. Talvez seja do mesmo jeito que nós). Não há limites para os apaixonados. Nessa hora estamos nas nuvens. Estamos bem no trabalho, na faculdade, no colégio, em casa, enfim, em qualquer lugar. A felicidade aflora em uma anormalidade incrível.

A paixão recíproca nos torna super-heróis imortais, daqueles que voam e têm poderes especiais. Aliás, é bem assim que ficamos quando estamos apaixonados. Voamos o tempo inteiro. Os pensamentos, então, nem se fala! A vontade de compartilhar um tempo, por menor que seja, com a pessoa que faz o nosso mundo girar numa velocidade mais rápida, se torna meta diária. Chegar na casa dela e vê-la é gratificante. O sexo com essa pessoa, por pior que seja, é muito bom. O beijo é fascinante. Enfim, tudo é bom!

Aliás, o beijo é algo contagiante. O beijo bom nos deixa com vontade de não pararmos mais de beijar. A língua tocando na outra língua... É indescritível a sensação de prazer. As mãos tocando os cabelos, o pescoço, os braços, a cintura. Tudo é bom quando estamos apaixonados. Apenas estar na companhia de quem sentimos algo mais já é gratificante. Não precisa nem beijo, nem mãozinhas dadas, nada disso. Apenas olhos nos olhos e uma conversa agradável já é o suficiente. Não esqueçam que estou falando da paixão recíproca, pois se a paixão fosse aquela não correspondida, falar com a pessoa que não sente o mesmo que nós, é muito desagradável. Para não dizer aterrorizante.

A paixão é intensa como vermelho. De repente tudo são flores e as árvores mortas em uma avenida deserta viram poesias melancólicas, como as de Drummond. O tempo no momento em que estamos ou estávamos com a pessoa não deveria passar e os carinhos e beijos não deveriam parar. É interessante como tempo está presente em toda a nossa vida. É irônico, mas morrer é uma questão de tempo. (Será que isso foi uma piada? Só se for de humor negro! Essa foi péssima. Prometo melhorar da próxima vez.)

O vermelho toma conta da nossa vida, assim como os pensamentos não param de lembrar a fulana ou o fulano. As lembranças, para as paixões sem reciprocidade, emergem de um mar frio, fundo e escuro, que está dentro de nosso cérebro. E, nestas horas, lembrar é o que realmente não queremos e esquecer se torna algo complicado e que não depende de nós.

Um amigo disse que devemos esperar o tempo fazer com que esqueçamos da maldita pessoa. Ô tempo que não passa! Ah, se fosse fácil. Se fôssemos mais práticos talvez seria melhor, mas nunca saberíamos o gosto de uma paixão, correspondida ou não, nem a cor e nem o cheiro doce e suave que tem. Se for de tempo que necessitamos para essa “peste” passar... Que não demore tanto!

Um comentário:

Unknown disse...

O poema do semelhante

todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.

Elisa Lucinda (

Beijos Dulci