sexta-feira, 1 de março de 2013

Suplício de amor

Entra, meu amor. Fica à vontade. Puxa uma cadeira. Senta aí. Aceitas um café? Me conta do teu dia, dos teus sonhos, do teu passado. Fala daquela foto em que apareces de aparelho, denunciando a adolescência com espinhas no rosto e roupas esquisitas. Fala, também, daquela tua vizinha que tu não gostavas e que brigavam toda a vez que se encontravam. Fala dos teus estudos, da tua dificuldade na matemática. Conseguiu decorar, enfim, a tabuada do sete? Senta aí, fica à vontade. Solta esta bolsa, que deve estar pesada, mas, sobretudo, me explica: o que queres? Não seja cínica e nem bipolar. Explica o que tu sentes! Senta. Fala aí. Fala agora. Poxa! Bota para fora, despeja a tua verdade e faz dela a minha verdade, porque por enquanto trabalho com insinuações, ideias, conjecturas minhas e nada de ti. Solta o cabelo. Fica à vontade, mas me fala. Eu preciso saber o que está se passando aí nesse coraçãozinho. Tu te sentes só? Eu imagino que sim, mas tu também fazes eu me sentir só e, além disso, inseguro. Por favor, não peça para eu decidir nada. Sou péssimo com essas coisas. Me pega pelo braço e me obriga a fazer as coisas. As que eu quiser, obviamente, farei. É simples. É do nosso mundo que estou falando. É desta bagunça que me encontro que quero sair, mas para isso acontecer, eu preciso que tu me expliques. Por favor. Desabafa comigo. Não foge. Não peço casamento, nem noivado, nem namoro. É tão simples dizer que o sentimento fez morada em outro endereço ou que não me pertences mais de alguma outra forma. O tempo já passou um pouco. Tuas dúvidas já poderiam ter sido sanadas e os meus medos escondidos, pelo menos, mas não. O que é isso? Fala! Fala comigo! Olha pra mim! Olha nos meus olhos e diz. É tão difícil? Sei que desabafar não é fácil, mas tenta facilitar um pouquinho só as coisas, por favor. Isto é um suplício. Preciso me ajoelhar? Não, né? Me conheceste, nos conhecemos e vi teus problemas. Tentamos nos ajudar e agora parece que os problemas somos nós. Me explica. Queres um cigarro? Sei lá, nessas horas a nicotina sempre ajuda. Apesar de saber que tu não fumas e ainda pedes para que eu pare... Eu só estou tentando te ajudar. Fala. Te abre comigo. Montra aquele sorriso novamente. Me chama daquele apelidinho engraçado que eu te chamo também. Vamos nos ajeitar? Mas, antes disso, me responde: por quê? O que está acontecendo? E depois de explicar, de falar, fica, amor. Vê se fica. Esta chegada tua me fez tão bem e eu estou tão cansado de partidas. Vê se fica mesmo, de verdade. Te faço cafuné e café na cama. Talvez, até massagens. Só não me faça te dar tchau, novamente. Chega para ficar. Chega para me amar. Chega, te instala, fica e me ama.

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