segunda-feira, 17 de agosto de 2009

"Acusada" de Morte


Era uma noite agradável de junho. Não estava frio, porém a lareira do prostíbulo estava com o fogo aceso, fazendo com o que seus clientes se sentissem mais quentes do que já estavam. Mulheres bonitas desfilavam no salão da casa com roupas íntimas e gargalhavam entre cachimbadas de homens poderosos e outros nem tanto.

Alguns “amigos” da dona da casa noturna jogavam roletas, outros pôquer e outros apenas bebiam com suas acompanhantes do prazer. O coronel Inocêncio Machado chegou ao local por volta das 23 horas e procurou sua amiga de infância, Nara Silva, dona da casa. Para ele, foi separada a melhor dançarina e menina mais nova. Ninguém a tinha “traçado” ainda. Ela era a virgenzinha do prazer.

Silvana Canabarro usaria nome falso para seduzir os homens que iriam procurá-la. Uma menina de vinte e quatro anos, com uma boa família, porém, não aceitavam seu romance com um pedreiro que estava fazendo obras em sua casa. Para atingir seus pais de uma maneira com que eles ficassem desolados, ela decidiu se prostituir e foi procurar a Dona Nara.

A cafetina deu abrigo, comida, roupas e um anel de ouro, para a menina poder fazer charme para outros homens e com isso ganhar mais presentes, fazendo uma espécie de ciúme e intriga de um para outro. “Jogo de quem está no ramo há muito tempo”, dizia Dona Nara à menina. Sua protetora e, desde já, fiel empresária, a disse que lhe apresentaria somente para um homem que considerava amigo, este, logo, era o Coronel Inocêncio.

_ Coronel, que bons ventos o trazem? Diz Nara.
_ Uma boa briga com a patroa, responde o Coronel. Um homem sisudo, com bigode. Aposentado do exército, gasta seu dinheiro com mulheres da casa de Dona Nara.
_ Então, para alegrar-se um pouco, vou lhe apresentar a menina mais nova da casa e, a meu ver, a melhor.
_ “Vamo” lá Narinha! Quero ter prazer essa noite, já que lá em casa o único que tenho é quando estou longe, mesmo. Ironiza o Coronel.
_ Coronel, esta é Alzira Safadinha. Dizia Nara ao Coronel, apresentando a menina, recém chegada.
_ Muito prazer, Alzira! Sabe... Venho aqui há anos, sem ninguém saber, óbvio, e nunca vi ninguém com sua beleza e carisma.
_ Muito obrigada, Coronel.
_ Bom, vou deixar os pombinhos conversarem uns minutos a sós. Quer beber alguma coisa Coronel? Posso pedir para o garçom servir duas doses de seu whisky favorito?
_ Claro, Narinha! Pode sim, mas não quero duas doses... Quero três, duas em um copo e uma em outro. Meu bebê não pode beber muito essa noite. Ele tem que tomar mamadeira antes de dormir e criança que bebe muito faz xixi na cama, não é mesmo, gracinha? Dizia o Coronel, fazendo referência á menina e a acariciando a bochecha, como as avós fazem nas crianças.

Durante algumas horas, o coronel acariciou a mocinha. Mexeu nos cabelos, acariciou o rosto, apalpou suas coxas, alisou suas costas, tocou na barriga dela e cada vez que o coronel fazia isso, a cada território no corpo da menina que era explorado, o velho, com seus sessenta e oito anos, ficava mais animado e excitado. Ele fazia o tipo sem vergonha. Sua esposa sabia de suas traições, mas não falava nada contra, pois necessitava de seu dinheiro, já que seus pais, irmão e todo mundo da família dela já havia falecido.

Enquanto sua esposa telefonava para o celular do esposo, supostamente, desaparecido, ele caía na gandaia, tomando doses e mais doses de whisky dezoito anos e o mais caro que a Dona Nara poderia oferecer. Já havia dado duzentos reais à sua menina e mais cem reais à dona da casa por ter apresentado a menina para ele. Também, prometeu jóias e mais jóias à Alzira Safadinha.

Era duas horas da manhã e o Coronel, cheio de pose, já estava bêbado. Suas guardas estavam baixas e qualquer pessoa com maldade poderia lhe tirar algum “dim dim”. Apesar de ele estar quase “pedindo para sair” o velho não parava de beber. A moça não bebia mais, segundo ela, duas doses são mais que suficiente.

Algum tempo depois, o Coronel, cambaleando, foi ao banheiro com uns remedinhos na mão e um copo de whisky na outra. Depois de meia hora o Seu Inocêncio volta ao salão e diz para a moça que está na hora deles ficarem a sós para terem um contato mais quente. A moça não gostou da idéia, mas pensou que era só abrir as pernas e fingir um orgasmo de prazer.

Ela entra no quarto e deita na cama, enquanto ele fecha a porta e tenta, desesperadamente, tirar a roupa. Mesmo depois de certo tempo, o Coronel continuava bêbado. Inocêncio, sem roupa, mostrando sua barriga em estado deplorável, e a cicatriz de uma cirurgia de apêndice, se deita na cama e começa a bagunça carnal.

Pernas peludas de um lado, pernas lisas e delicadas por outro. Mãos grosas em uma parte do corpo, mãos delicadas em outro. Gemidos grossos e em tons graves. Gemidos finos, delicados e agudos, claro, esses eram dela, ou seja, tudo mentira. Ela estava odiando fazer sexo com aquele velho. O hálito desagradável de álcool de Inocêncio espalhou-se por todo o quarto, em menos de cinco minutos. Ele tomou a iniciativa sempre. Não a deixou ser dominadora.

O velho fazia força com seus movimentos sexuais, até porque, a menina tinha “pique”, diferente do Coronel aposentado e cheio de medalhas. Porém, mesmo assim, o velho não se deixava abater e fazia o melhor que podia, quando, de repente, o velho cai por cima da menina. Achando que ele teria terminado com a “festinha”, a menina tentou “acorda-lo”, porém, após alguns minutos ela se deu conta de que o velho estava morto. Gritando, então, Alzira Safadinha pede socorro. Suas colegas e a própria dona do prostíbulo batem na porta do quarto.

Alzira atendeu com uma cara de espanto e sai gritando pelo corredor: _O Coronel morreu! O Coronel morreu! Pronto! A cagada estava feita. Dona Nara telefonou para o hospital mais próximo para providenciar a ambulância para levar o corpo. Enquanto a dona da casa providenciava esses assuntos, as meninas apavoradas foram ao quarto velar o corpo. Em questão de minutos, encheram a cama em que ele estava deitado de flores. Viraram o defunto para que ele fique com a barriga para cima.

O problema de o morto ficar de barriga para cima, é que ele, minutos antes de morrer, tomara Viagra, o comprimido da felicidade, que no caso do Coronel se tornou eterna. Então, como deixar um cadáver, de barriga para cima, pelado e com uma “vela” acesa? Não podia.

A ambulância demorava a chegar e as meninas com um terço, rezavam, ajoelhadas ao lado da cama em que tudo aconteceu. Alzira estava na cozinha, chorando, desolada. Sentia-se culpada pelo que acontecera. De repente, a ambulância chega. Carrega o morto e o leva ao hospital, acabando com aquela noite inesquecível para Alzira e todas as outras meninas da casa.

Depois disso, Alzira voltou a usar seu nome e retornou à sua casa para ter uma vida feliz e agradável. Sem coronéis. Sem cafetinas. Apenas, com sua família que lia no jornal local a morte do Coronel Inocêncio e comentava: _”Que horror! Quem deve ter sido a sem vergonha que matou o Coronel? Coitado! Tão bonzinho!”

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