domingo, 25 de julho de 2010
Aquela Árvore
Foi num domingo quando a vi pela primeira vez. Passeava de carro com uma antiga namorada minha. Ela estava lá: parada, pregada, feito estátua. Eu a observei de relance e não pude reparar como era o seu corpo, a sua cor e o seu charme. Outro dia voltei ao lugar que a encontrei. Com a correria do dia, também, não foi desta vez que analisei suas características.
Então, o tempo passou. Na sexta-feira santa de dois mil e sete eu consegui, finalmente, olhá-la, analisá-la, pude repará-la. Enxerguei, olhei, vi, reparei em tudo. Ela ali parada, sem movimentação. Eu aqui parado, fumando meu cigarro na sacada da minha casa intrigado com aquela árvore.
Ela, que no primeiro dia que a vi não movimentara nenhum galho, nenhuma folha, nada, hoje, quase dança para o seu espectador, seu fã, mais presente e mais apaixonado. Com seus galhos cheios de folhas, ela os move com tanto carisma, tanto romantismo, que, eu, fumando meu cigarro, me perco em meio aos seus movimentos suaves.
Ela ali parada e o mundo girando sem nem explicar o que está acontecendo e como está acontecendo. Ainda não estou dialogando com a árvore. Calma! Minha loucura não é tanta, assim. Porém, ela me passa um certo ar de mistério e até mesmo, devo confessar, de amizade.
Foi para ela que contei meus planos mais secretos, aliás, para ela e para o meu cigarro, que se ia, com o vento. Foi para ela, também, que reclamei meus amores e desamores. Embaixo de um banho de lua clara ri, muitas vezes, olhando para a minha frente e encontrando a dança dos galhos e das folhas verdes. No meio do vento, do frio, da chuva, do calor e do sereno eu sempre a vejo. Como sempre: linda, exuberante, imponente.
E eu sempre e cada vez mais apaixonado por sua presença. Ora, tantos autores indeusaram as mulheres, o sertão, seco, empoeirado, pobre, sujo. Tantos outros mistificaram a presença de índios sacanas, ignorantes. Cada um exalta aquilo que merece, em sua concepção, ser exaltado. Hoje, peço licença para falar da minha árvore.
Tantas mudanças aconteceram na minha vida desde dois mil e sete. Desde o primeiro dia do nosso encontro, não sou mais o mesmo e acredito que ela também não seja, afinal, são três anos. Três anos que mantemos uma amizade secreta e um fascínio escondido. Há três anos, quando vou para a sacada fumar meu cigarro e sempre a vejo e com a mesma intensidade ela me intriga e me faz pensar que tudo muda ao seu redor, enquanto ela está parada.
Tantas coisas aconteceram. Três anos, afinal, se passaram. Muito ri para ela e chorei. Muito contei meus casos de amores perdidos e achados. Muito reclamei que o meu emprego era ruim. Desabafos foram e vieram em meio ao dia e à madrugada, através de uma tragada, uma baforada, uma risada e uma lacrimejada.
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