segunda-feira, 30 de novembro de 2009

1987


No ano em que o Grêmio foi Tricampeão Gaúcho, que o Flamengo foi Tetracampeão brasileiro, que o Cazuza lançou seu segundo disco “Só Se For A Dois”, mais precisamente, no dia vinte e quatro de setembro do mesmo ano, nascia, em Rosário do Sul, um guri. Mais uma criança no mundo. Mais uma vida.

Tudo começou nos dez últimos dias de janeiro do mesmo ano. Não sei bem como foi, mas imagino que tenha sido com um beijo despretensioso, um carinho, um abraço ou, quem sabe, com um jantar a dois ou à luz de velas. Nesse dia, que não sei bem qual foi, minha vida era consumada.

Não lembro de como nasci, mas sei que foi uma festa dentro do hospital. Chuteira velha, surrada pelos maus tratos e pelo tempo, pendurada na porta do quarto da maternidade, charutos para os homens, choros de emoção, champanhe para todo mundo, do provedor aos encarregados da limpeza do hospital. Meus pais, parentes e amigos fizeram a verdadeira festa.

No mesmo dia, um ano depois, o salão de festas do antigo INPS da cidade estava todo decorado com motivos infantis. Era meu primeiro aniversário. Todos meus parentes e amigos dos meus pais estavam presentes. Não sei qual foi o prato servido e nem se tinha bebidas. Pelas fotos, fico sabendo de algumas coisas.

Minha vida se iniciava em uma família que, se voltasse no tempo, nasceria na mesma. Meus pais tão carinhosos, minhas irmãs querendo meu bem. Minhas tias tão amáveis, meus tios tão amigos. Meus primos companheiros e minhas primas confidentes. Tudo era e é perfeito.

Nem vou entrar no assunto da inocência que crianças têm ao iniciarem suas vidas, pois me tornaria clichê, porque é óbvio que crianças são inocentes e acham que sabem tudo da vida. Hoje, ainda, não sei o que é a vida, imagina naquele tempo!? Só sei que estou aqui agora... Vinte e dois anos mais tarde escrevendo sobre a minha vida, mas querendo falar sobre meus pais.

Sempre fui desejado pelos meus pais, principalmente, pelo meu pai. Fiquei sabendo, há pouco, que dei um pouco de trabalho para minha mãe durante a gestação. Dei riscos à ela e a mim mesmo. Poderia não ter nascido, mas estou aqui e aqui ficarei por um bom tempo.

Minha infância... Lembro das pescarias com meu pai, tios e primos. Sempre andei grudado ao meu pai. Aonde ele ia, eu ia atrás. Certa vez (risos), ele foi viajar a trabalho e, como não nos separávamos por nada, entrei em desespero quando a noite caiu e não tinha a presença dele em casa. Lembro que peguei uma bermuda dele e me abracei nela chorando e pedindo que voltasse logo. Devia ter uns cinco anos de idade. Era uma bermuda azul com um cinto azul e vermelho.

Também, lembro que no colégio, toda a vez que recebia bilhetes das professoras avisando os meus pais que não copiava em aula e que ficava conversando e/ou brincando, escrevia logo abaixo do bilhete da professora “eu te amo, mamãe.” Era a minha tática para não apanhar ou ficar de castigo. Não dava muito certo, pois sempre ficava de castigo. Nunca apanhei. Talvez eu preferisse para me livrar da pena para poder ir brincar com as crianças da minha quadra.

Quando estava na segunda série, minha mãe teve um derrame cerebral. Não entendia direito o verdadeiro motivo de ela ter sido hospitalizada, mas fiquei muito triste. Lembro que o Grêmio tinha sido campeão em algum campeonato e ela não estava em casa para comemorar conosco, então, fui para a cozinha chorar a falta dela. Um dia, quando ela estava doente, na sala de aula, a professora estava passando a matéria no quadro e eu não conseguia copiar... Fui até ela e disse, chorando, que não conseguia copiar porque estava preocupado com minha mãe.

No ano de dois mil e um, me formei no ensino fundamental. Fui o orador da turma. Escrevi um texto para ler, não lembro direito como ficou, mas acabei lendo um que meu pai escreveu. Sei que ficou bom porque a mãe do Júnior, um ex-colega meu, não parou de chorar um minuto (risos). Na entrega dos canudos eu estava feliz e um pouco nervoso... Depois disso, me bateu uma profunda tristeza. Pensava: e agora? O que vai ser de mim? Quando a formatura terminou corri pros braços do meu pai e desabei chorando. Sempre fui de chorar... Sentimental.

Em dois mil e quatro me formei no ensino médio. Dessa vez não fui o orador. Perdi a eleição por alguns votos de diferença. Não chorei, ao contrário, eu só ria. Acho que no baile dessa formatura eu tomei o meu primeiro porre. Me diverti muito e tenho saudade daquele tempo. Amigos unidos, sonhos para o futuro e, mais uma vez, a vida que eu desconhecia. Meus pais foram à formatura, mas não para o baile. Ainda bem, pois bebi muito e, naquela época, fumava escondido (risos).

Alguns meses depois entrei em depressão. Mudei de cidade e larguei os braços do meu pai que me protegiam e as mãos da minha mãe que me faziam carinho quando estava triste ou carente. Fui morar com a minha irmã. Estava tentando entrar para a universidade. Acho que nunca chorei tanto como no ano de dois mil e cinco. Fiz bastante festa, também, com meu primo. Mas, apesar disso, sentia que faltava o abraço e o conforto que os meus pais me traziam. Faltavam os meus amigos que havia deixado em Rosário, sentia falta da minha casa. E, mais uma vez, sabia que pouco conhecia da vida.

Dois anos depois, meus pais se mudaram para a cidade onde morava e moro até hoje, Rio Grande. Logo mais tarde, minhas duas irmãs também vieram para cá. Pronto! Família reunida e amor para dar e vender. Estava protegido do mundo, aliás, dos males do mundo. Tinha, de novo, os braços, que me traziam proteção, do meu pai e as mãos e palavras carinhosas da minha mãe.

E cá estou.... Escrevendo sobre a minha vida com uma mensagem subliminar muito importante. Talvez eu não seja o filho que meu pai sempre sonhou. Talvez não seja o filho que minha mãe quis que eu fosse, mas aqui estou e aqui sou. Convicto dos meus sonhos, da minha vida e dos meus amores: por eles, por mim e por minha vida, que abrange afetividade, amizade e profissão.

Tenho em mente realizar muitas coisas: ter filhos (as), ter uma boa vida profissional e financeira. Levar uma vida sossegada, aprendendo sempre com ela, não desanimando no primeiro obstáculo que me é imposto. Se eu tenho modelos a seguir? Óbvio! Sigo minha vida tentando ser idêntico aos meus pais. Meu pai por sua honestidade e integridade. Talvez, por isso, por não saber ser malicioso e/ou maldoso, ele tenha “apanhado” da vida, mas me orgulho do Seu Elinton, sempre tentando ser o melhor e trazer o melhor para mim, para nossa família. Minha mãe por seu caráter, assim como meu pai, honesta, sensata, por seu carinho, por sua exatidão nas palavras, por seu amor para com os outros, por sua solidariedade.

Não sei se consigo ser igual a eles, mas, se conseguir serei uma pessoa feliz e em paz comigo mesmo, pois serei, a melhor pessoa do mundo. Sem humildade nenhuma, posso dizer que se sou o homem, o grande homem que hoje está aqui, em paz, feliz, enfim, agradeço à Dona Leda e ao Seu Elinton, que me ensinaram o que é a vida e o que esperar dela. Fazer o bem a todos sem esperar nada em troca não foi a Bíblia ou o filósofo que me disse... Meus pais foram os responsáveis.

Por isso, agradeço, todos os dias, por tê-los comigo. Talvez, não consiga me expressar melhor de uma forma mais carinhosa no dia a dia. Devo isso à falta de tempo e, quem sabe, ao meu próprio egoísmo de tentar abraçar amigos, família, festas, amores, rua, enfim, tudo ao mesmo tempo e o dia tem apenas vinte e quatro horas. Mas, de qualquer forma, estou sempre por perto, mesmo estando na casa de um amigo ou amiga ou numa boate ou até mesmo em outra cidade. Mas, o importante é que os amo imensamente. Se desse para medir não haveria espaço no universo para mostrar o quanto é grande o meu amor.

Só as palavras podem mostrar, explicar, expressar o quanto existe de amor dentro de mim por meus guias... Por meus horizontes... Por vocês: pai e mãe.

2 comentários:

Mitcheia disse...

Com certeza conseguiste externalizar o que sentes pelos teus pais, ao menos o que as palavras permitem. A verdade é que elas são extremamente limitadas e por mais exatos e sentimentais que sejamos, nem sempre conseguimos chegar 100% no que queremos dizer.
Como disse Fernando Pessoa em um dos quartetos de seu poema Autopsicografia:

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

Adoro as coisas que escreves! Parabéns.

Matheus Bandeira disse...

Obrigado, Mitcheiaa!!!

A recíproca é 100% verdadeira.

Grande beijo!