Pensando bem na vida e o que a separa entre estar bem e estar mal, concluí que a vida é simplesmente dois verbos. Vivemos todos os dias e morremos em todos eles, também. Vivemos com a esperança abraçada em nosso corpo querendo – desesperadamente – nos largar para podermos dizer: “que bom. Aconteceu!”
Morremos todos os dias quando deixamos de fazer algo que gostaríamos e, assim como a morte, o tempo não volta atrás. É como se morrêssemos para aquilo que não foi feito. Arrepender-se é morrer. O tempo não volta. A morte não tem explicação – só acredito que existe vida após a morte depois que eu voltar quando morrer.
Vivemos todos os dias com um sorriso aberto todos os dias em que nos dão carinho. Vivemos todos os dias quando estamos nos braços de quem queremos estar e é melhor ainda quando é recíproco. Um beijo, um sorriso, um abraço, uma palavra.
Por isso, existe, em nossas vidas, uma linha muito fininha, quase transparente, quase clandestina, quase mentirosa, quase despercebida: o viver e o morrer. Uma linha que separa esses dois verbos. Podemos morrer quando quisermos. É só deixarmos isso acontecer. Como? Deixando de fazer, de rir, de sorrir, de aproveitar, mas principalmente, de amar.
Ao mesmo tempo, podemos viver todos os dias. Como? Fazendo tudo o que vem em nossas cabeças – claro que não agiremos prejudicando os outros, óbvio. “Viver é melhor que sonhar”, como diz a música “Como Nossos Pais”, mas sonhar faz parte da vida e se isso fizer com que você viva mais... Sonhe! Sonhe aquele sonho impossível, mas não se acomode em sonhos. Seria bem melhor se pudesse realizá-los, não é?
Morremos todos os dias quando lemos nos jornais que o Brasil está mal cuidado, que nossos jovens estão abreviando as suas vidas, que os nossos idosos estão morrendo na fila do SUS ou esperando a tão sonhada aposentadoria do INSS, sistema previdenciário falido e rico do Brasil. Morremos todos os dias quando nos damos conta de que mais um dia passou.
Vivemos todos os dias quando conseguimos driblar uma tristeza, quando nos tornamos fortes para enfrentar uma doença ou nós mesmos – nossos medos, nossos orgulhos. Quando nos sentimos aliviados de alguma situação que estava nos causando uma morte. Vivemos, também, quando encontramos um amigo que há tempos não víamos e aí acontece aquele encontro caloroso, cheio de saudades e de histórias para relembrar e rir.
Morremos quando nos decepcionamos com as pessoas ou com qualquer outra coisa que estávamos esperando justamente o contrário. Morremos quando o que acontece não está ao nosso alcance e nos sentimos um “nada”, um “ninguém”. Também, quando a decisão que tomamos está, ainda, incerta e a insegurança chega para atormentarmos-nos.
Vivemos quando ouvimos músicas boas, do nosso gosto – MPB é o meu. Morremos quando estamos sós e quem queremos não está. Vivemos quando esse alguém chega cheio de assunto para contar. Morremos quando alguém morre. Vivemos quando alguém nasce. Morremos quando nosso amor acaba ou quando ele acaba conosco. Morremos quando deixamos que o fato de não estarmos com quem queremos nos abala a ponto de fugir da vida. Vivemos quando um novo amor bate à porta e pede para entrar. Vivemos quando beijamos uma paixão. Vivemos quando abraçamos um amor. Morremos quando queremos. Vivemos sempre que nós mesmos nos deixamos viver.
Vivemos quando não temos a vergonha de sermos felizes. Vivemos com um copo de cerveja na mão, em um bar com amigos e um cigarro para tragar. Vivemos contando nossas rotinas às pessoas em quem confiamos e nossos amores aos confidentes. Vivemos quando a paixão chega. Vivemos quando ouvimos o que desejamos ouvir – ao pé do ouvido.
Morremos quando um amor se despede. Morremos quando nos despedimos de um amor. Morremos quando o tédio toma conta. Morremos quando a amizade acaba ou quando ela nunca existiu. Também, quando acabamos caindo na grande ilusão ou quando investimos muito em algo que não merecia – ou alguém.
Vivemos esperando um grande amor e até encontrá-lo muitas mortes virão e muitas vidas chegarão. Estou vivendo e não vou morrer tão cedo – pelo menos do que depender de mim. Vivemos quando as bocas se tocam, as mãos se seguram, os corpos se atritam, as falas acabam e os olhos gritam.
Enfim, vivemos quando estamos aí para viver. Morremos quando queremos. Viver e morrer: uma linha clandestina e sem vergonha separam dois verbos fundamentais, que estão presentes em nossos cotidianos, em nossa vidas, sempre!
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