domingo, 17 de março de 2013

Ressaca de alguém.



Acordei sem abrir os olhos. Estiquei o braço na busca pelo meu cigarro, companheiro, meu café da manhã, minha sobremesa, meu rivotril, minha ritalina, meu psicólogo, mas não o encontrei. Achei, somente, o isqueiro sozinho, descansando ao meu lado, na cama. Do outro lado. Do lado frio. Do lado que ninguém esquenta. Do teu lado. Abri os olhos e tentei ver que horas eram. Passava das duas horas da tarde de um domingo de sol. Levantei-me e fui ao banheiro. Fechei a porta, por mera mania, pois, sozinho, ninguém me veria. Escovei meus dentes e nem olhei para o reflexo que o espelho me mostrava. Faltou-me coragem. A ressaca riria da minha cara, quando a encarasse. Na cozinha, encontrei resquícios da noite anterior. Cigarros pelo chão, garrafas de cerveja deitadas no tapete, provavelmente dormindo, doses de uísque consumidas pelo gelo, pelo calor, cinzeiros cheios cinzas, cd's espalhados, enfim. A festa da noite passada fora animada. Não juntei nada. De cueca e pés descalços, preparei um pão com margarina, dessas que, nas propagandas, as pessoas são felizes às sete horas da manhã. Quanta ilusão. Ninguém é feliz às sete horas da manhã. Nem depois de transar. Meu café despertou-me e minha cabeça doía. Não havia ninguém na casa. Ninguém além de mim, da minha dor de cabeça, da minha solidão. Procurei em algum lugar qualquer uma carteira de cigarros que pudesse salvar meu despertar, mas não obtive sucesso. Coloquei uma jaqueta e uma bermuda e fui à padaria da esquina.

_ Oi. Podes me dar uma carteira de carlton vermelho?
_ Oi, Marcelo! Quanto tempo! E esta cara? A farra foi boa ontem?
_ Uma carteira de carlton, somente.
_ Ah! Não quer falar, não é?
_ É. Não quero. Definitivamente.
_ Então está bem.
_ Obrigado.

Voltei para minha casa e comecei a limpar a bagunça da noite. Tentei lembrar quem foram meus convidados, pois a quantidade de copos e taças espalhadas pelos quatro cantos do apartamento era enorme. Puxei pela memória, verifiquei nos celulares, no identificador de chamadas do telefone e nada. Não conseguia concluir, nem pensar, nem nada. Ressaca maldita! Joguei tudo fora, menos os copos, logicamente. Ensaiei lavar a louça, mas foi só um ensaio. Voltei para a cama com meu cigarro, meu café e meu edredom. Pensei nas possibilidades da minha vida, entre a fumaça bendita da nicotina. Pensei em ti. Em nós, para ser mais preciso. Fiquei com raiva, por vezes, pois sabia que não estavas e nem estarias ali, ao meu lado, para me abraçar e não estavas pelo simples fato de não quereres. Acendi mais um cigarro. Bebi mais um pouco do café e liguei a televisão. Nada bom. Ouvir música é melhor. Cicero? Chico Buarque? Maria Bethânea? Caetano? Nada disso. Toca Raul, pensei. Nada melhor que a loucura, para um louco apaixonado, perdido entre os sentimentos e a loucura de saber que a solidão existe e que a recíproca só é, quando se tem dois. Enquanto tudo é apenas um, dormir ainda é a melhor opção. Cliquei no "stop", soltei o cinzeiro, afastei o café, virei para o lado e dormi.

domingo, 10 de março de 2013

A calçada é a riqueza das ideias.

Pareço meio perdido, mas entenda, a história não é bem assim. Na verdade eu sei bem o que quero, só que à vezes eu preciso de um tempo, então, saio de casa, bebo alguma coisa em um bar qualquer, com qualquer um(a), em qualquer canto. O que me move são os sentimentos, não adianta. Já tentei não fazer parte desse mundo, desse momento. Já tentei fingir não fazer mais parte da vida de alguém, mas acabo sempre em um resultado matemático de um conjunto vazio. Aí eu sinto um pouco de saudade, um pouco de dor. Tento rezar, mas parece que minhas preces são em vão. Não sei. Maldito tempo que não passa nunca. Às vezes, saio dos bares acompanhado e feliz, mas minutos depois parece tudo isso ser tão pouco, tão vazio. Prendo o choro, seguro as lágrimas, seria constrangedor chorar na presença de uma pessoa que se dedica a nós sem saber de nada. Porque tudo parece ter uma razão escondida em um útero de consciência inatingível. Vez ou outra sento na calçada e penso na vida. Ali, no meio fio, mesmo. Alguns insistem em chamar este lugar de sarjeta, mas é tão grotesco, tão pobre, como diria Caio Fernando Abreu: "de uma pobreza alagoana", que eu prefiro ser simples e dizer: calçada. Porque, no fundo, a calçada é a riqueza das ideias. É ali, infelizmente ou felizmente, que a razão parece brotar do absurdo. Não sei se faz sentido, mas se os psicólogos colocassem os seus divãs nas calçadas, eles teriam mais sucesso. Ah! Essa vida de altos e baixos. A montanha russa que não para. Tento manter uma conversa com alguém, mas meu eu lírico sempre se apresenta em um momento do assunto e acabo falando coisas que nem sei se queria dizer e me envolvendo como ela, como ele, como nós, como alguém desesperado, como alguém que tenta achar a razão de tudo, sem ter nada. Com tudo nas mãos. Com um mundo para explorar.

terça-feira, 5 de março de 2013

Que seja sobre amor, então.

Sobre o que escrevo, devo dizer que acredito que falta muito para me tornar um escritor. Algumas pessoas, amigos meus, logo, suspeitos a falar, me qualificam como sendo um escritor, mas, realmente, não me vejo assim. Costumo dizer que sou só um cara que gosta de escrever. Só isso. Simples. Mas, agora, me vejo um pouco cansado de escrever sobre o amor. A maioria dos meus contos ou crônicas falam de tal sentimento que toma conta de todas as pessoas do mundo. Aí eu penso que antes eu falava sobre diversas coisas. Às vezes escrevia sobre política, defendendo meus ideais, outras sobre o cotidiano, enfim, sobre inúmeras coisas. O amor, as relações sempre fizeram parte do meu vocabulário, mas agora está demais. É como se fosse um balde embaixo de uma torneira quase transbordando d'água. Chega uma hora que cansa! Gostaria de falar sobre a situação da minha cidade, dominada financeiramente por pessoas de outros estados ou, então, sobre a maneira firme que a presidente Dilma está conduzindo o país ou, até mesmo, sobre o crescimento fraco do PIB este ano e a queda histórica do número de desemprego. Poderia escrever sobre algum filme do Almodóvar, de Marilyn Monroe, da tristeza realista dos textos de Clarice ou, quem sabe, da nada sutil opinião política da Rede Globo. Poderia escrever um conto que falasse sobre amizade, dois meninos ou um casal ou duas meninas, mas não. Tantas coisas que me rodeiam e eu só falo de amor. Cansa! Falaria bem (eu acho) sobre o egocentrismo que Nietszche cultuava e fazia com que os outros passassem a pensar desta forma, uma coisa meio que: "eu por mim mesmo e, ainda sozinho, sou melhor que todos." Minha mãe daria uma bela crônica, meu pai um conto, talvez, e minhas irmãs ótimas poesias, quem sabe. Até meus cachorros seriam temas interessantes, mas não. Definitivamente, o amor toma conta de minhas palavras e acabo escrevendo somente sobre ele. Uma hora é porque inventei uma cena ou vi que um amigo voltou com a namorada ou, até mesmo, por ter conhecido alguém ou revisto um amor do passado/presente. Critico tanto a Martha Medeiros (ela possui textos que eu gosto - calmem) e estou me sentindo meio como ela: óbvio. Acredito que deva mudar isso. Notar a realidade do cotidiano, nos seus pormenores. No seu âmago (que palavra linda). E quando eu voltar a escrever, postando um outro texto, que seja sobre outra coisa, mas se tiver de ser de amor, que seja, então.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Suplício de amor

Entra, meu amor. Fica à vontade. Puxa uma cadeira. Senta aí. Aceitas um café? Me conta do teu dia, dos teus sonhos, do teu passado. Fala daquela foto em que apareces de aparelho, denunciando a adolescência com espinhas no rosto e roupas esquisitas. Fala, também, daquela tua vizinha que tu não gostavas e que brigavam toda a vez que se encontravam. Fala dos teus estudos, da tua dificuldade na matemática. Conseguiu decorar, enfim, a tabuada do sete? Senta aí, fica à vontade. Solta esta bolsa, que deve estar pesada, mas, sobretudo, me explica: o que queres? Não seja cínica e nem bipolar. Explica o que tu sentes! Senta. Fala aí. Fala agora. Poxa! Bota para fora, despeja a tua verdade e faz dela a minha verdade, porque por enquanto trabalho com insinuações, ideias, conjecturas minhas e nada de ti. Solta o cabelo. Fica à vontade, mas me fala. Eu preciso saber o que está se passando aí nesse coraçãozinho. Tu te sentes só? Eu imagino que sim, mas tu também fazes eu me sentir só e, além disso, inseguro. Por favor, não peça para eu decidir nada. Sou péssimo com essas coisas. Me pega pelo braço e me obriga a fazer as coisas. As que eu quiser, obviamente, farei. É simples. É do nosso mundo que estou falando. É desta bagunça que me encontro que quero sair, mas para isso acontecer, eu preciso que tu me expliques. Por favor. Desabafa comigo. Não foge. Não peço casamento, nem noivado, nem namoro. É tão simples dizer que o sentimento fez morada em outro endereço ou que não me pertences mais de alguma outra forma. O tempo já passou um pouco. Tuas dúvidas já poderiam ter sido sanadas e os meus medos escondidos, pelo menos, mas não. O que é isso? Fala! Fala comigo! Olha pra mim! Olha nos meus olhos e diz. É tão difícil? Sei que desabafar não é fácil, mas tenta facilitar um pouquinho só as coisas, por favor. Isto é um suplício. Preciso me ajoelhar? Não, né? Me conheceste, nos conhecemos e vi teus problemas. Tentamos nos ajudar e agora parece que os problemas somos nós. Me explica. Queres um cigarro? Sei lá, nessas horas a nicotina sempre ajuda. Apesar de saber que tu não fumas e ainda pedes para que eu pare... Eu só estou tentando te ajudar. Fala. Te abre comigo. Montra aquele sorriso novamente. Me chama daquele apelidinho engraçado que eu te chamo também. Vamos nos ajeitar? Mas, antes disso, me responde: por quê? O que está acontecendo? E depois de explicar, de falar, fica, amor. Vê se fica. Esta chegada tua me fez tão bem e eu estou tão cansado de partidas. Vê se fica mesmo, de verdade. Te faço cafuné e café na cama. Talvez, até massagens. Só não me faça te dar tchau, novamente. Chega para ficar. Chega para me amar. Chega, te instala, fica e me ama.