quinta-feira, 19 de julho de 2012

My way.

Arrumou a mala e partiu. Antes disso, tomou um banho, escovou os dentes e se foi. Numa mão, segurava a mala pesada, enquanto que na outra segurava um cartão vermelho. Era madrugada quando decidiu partir. A chuva insistentemente fria batia em seu rosto, lavava seu corpo, praticamente o impedia ou, pelo menos, tentava o impedir a seguir seu caminho. Ele não pensava em nada além dela. Entregou-se aos seus pensamentos de uma maneira verdadeira e acreditava que estava certo. Deixou para atrás seus pais e amigos. Emprego e bens materiais. Desiludido, pisava com vontade nos seus sapatos pretos, encharcados pela chuva. Seus passos curtos e rápidos o levavam para a fuga mais necessitada da sua vida. Estava fugindo da felicidade que outrora provara, que outrora tinha em suas mãos. Chegou na rodoviária com olhar triste, amargurado, quase chorando, mas sério, sóbrio, decidido e sentou em um banco, protegendo-se da água que caía torrencialmente do céu. Acendeu um cigarro e deu-se por conta de que ele era seu único companheiro. Uma amizade fatal. Recostou a cabeça no encosto do banco e começou a lembrar do que vivera naquela cidade, mais precisamente nos seus últimos dois anos. Lembrou dos amigos, dos copos de uísque, das festas, dos momentos com a sua família, com seus cachorros e até dos que passara sozinho. Lembrou de sua amada. Uma lágrima rolou quando de repente ouviu uma voz dizendo: "te amo para sempre". Ele a imaginara ao seu lado, naquele banco frio, naquela madrugada fria e chuvosa. Estava sozinho. Sozinho com seu cigarro que queimara todo no meio de seus dedos, mas que por estar longe dali nem lembrara que já tinha chegado ao fim. Lembrou das flores, dos poemas, dos textos, das risadas, da separação, do amor que ainda sentia por ela e que não diminuíra um milímetro se quer. Mas não fazia mais sentido. Nada mais tinha sentido. Lembrou de frases ditas, frases românticas, tão sinceras, tão lindas e chorou. Pousou seus cotovelos nas pernas, baixou a cabeça e chorou. Chorou tanto, que os soluços foram inevitáveis. Já não via sua amada há meses e esperava um contato a qualquer minuto. Olhava o celular a todos os momentos, mas nada aparecia e quando aparecia eram mensagens da operadora. Continuou chorando e lembrando dos bons momentos vividos, que só restavam ser esquecidos, mas esquecê-los estava sendo praticamente impossível. O ônibus chegou e ficou ali por alguns minutos até o motorista anunciar o destino. Então ele se levantou, foi até o guichê de passagens e comprou um bilhete. Subiu no ônibus sem nem saber para onde estava indo. Estava perdido. Na mão direita o bilhete, na esquerda o cartão vermelho. Sentou na sua poltrona e lembrou de palavras e frases como: "para onde tu fores, eu vou". Fechou os olhos e a imagem dela lhe fitando, com um sorriso não saía da frente de seu rosto. Lembrou dos seus beijos apaixonados e a imaginou com outros homens. Sentiu o peito apertar, o sufocar e chorou. O motorista deu a partida e ele encostou a cabeça no vidro do ônibus. Olhou para a rodoviária na esperança de que sua amada tivesse ido lhe dar tchau ou lhe pedir para ficar. Mas não tinha ninguém, só um cachorro encolhido, perto do banco onde estivera sentado por alguns minutos. As lágrimas caiam dos seus olhos como água em torneira. Pegou o cartão e leu as palavras escritas. Apertou o mesmo contra o peito, leu de novo e sussurrou: "estou fugindo de você, meu amor".