terça-feira, 27 de julho de 2010

E agora?


E no meio de uma madrugada gélida, Drummond e Matheus bêbados dialogando:

_ E agora, José?
_ Pois é... Eis a pergunta que não quer calar.
_ A festa acabou.
_ Eu sei.
_ A luz apagou.
_ Mas a esperança continua!
_ O povo sumiu.
_ Mas o pai volta no domingo e a mãe fica mais um pouco em Rosário.
_ A noite esfriou.
_ É que estou sem lenha para queimar na lareira, desculpa.
_ E agora, José?
_ Me chame de "você" já que não decorou meu nome.
_ E agora, Você?
_ E agora, o quê?
_ Você, que faz versos, que ama, protesta?
_ Não protestei. Apenas, desabafei contigo, Carlos!
_ E agora, José?
_ Calma. Vou ao banheiro. Carlos, já falei que meu nome é Matheus.
_ Sozinho no escuro, qual bicho do mato...
_ Espera que vou acender a luz da sala.
_ Sem teogonia...
_ Quê?
_ Sem parede nua para se encostar...
_ Carlos, acho melhor parares de beber! Tu não estás bem!
_ Sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José!
_ Tu fumou maconha ou o vinho te deixa assim?
_ José, para onde?
_ Relaxa! Eu só vou ao banheiro. Aliás, pela última vez: meu nome é Matheus!

(Adaptação de José, de Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 25 de julho de 2010

Aquela Árvore


Foi num domingo quando a vi pela primeira vez. Passeava de carro com uma antiga namorada minha. Ela estava lá: parada, pregada, feito estátua. Eu a observei de relance e não pude reparar como era o seu corpo, a sua cor e o seu charme. Outro dia voltei ao lugar que a encontrei. Com a correria do dia, também, não foi desta vez que analisei suas características.

Então, o tempo passou. Na sexta-feira santa de dois mil e sete eu consegui, finalmente, olhá-la, analisá-la, pude repará-la. Enxerguei, olhei, vi, reparei em tudo. Ela ali parada, sem movimentação. Eu aqui parado, fumando meu cigarro na sacada da minha casa intrigado com aquela árvore.

Ela, que no primeiro dia que a vi não movimentara nenhum galho, nenhuma folha, nada, hoje, quase dança para o seu espectador, seu fã, mais presente e mais apaixonado. Com seus galhos cheios de folhas, ela os move com tanto carisma, tanto romantismo, que, eu, fumando meu cigarro, me perco em meio aos seus movimentos suaves.

Ela ali parada e o mundo girando sem nem explicar o que está acontecendo e como está acontecendo. Ainda não estou dialogando com a árvore. Calma! Minha loucura não é tanta, assim. Porém, ela me passa um certo ar de mistério e até mesmo, devo confessar, de amizade.

Foi para ela que contei meus planos mais secretos, aliás, para ela e para o meu cigarro, que se ia, com o vento. Foi para ela, também, que reclamei meus amores e desamores. Embaixo de um banho de lua clara ri, muitas vezes, olhando para a minha frente e encontrando a dança dos galhos e das folhas verdes. No meio do vento, do frio, da chuva, do calor e do sereno eu sempre a vejo. Como sempre: linda, exuberante, imponente.

E eu sempre e cada vez mais apaixonado por sua presença. Ora, tantos autores indeusaram as mulheres, o sertão, seco, empoeirado, pobre, sujo. Tantos outros mistificaram a presença de índios sacanas, ignorantes. Cada um exalta aquilo que merece, em sua concepção, ser exaltado. Hoje, peço licença para falar da minha árvore.

Tantas mudanças aconteceram na minha vida desde dois mil e sete. Desde o primeiro dia do nosso encontro, não sou mais o mesmo e acredito que ela também não seja, afinal, são três anos. Três anos que mantemos uma amizade secreta e um fascínio escondido. Há três anos, quando vou para a sacada fumar meu cigarro e sempre a vejo e com a mesma intensidade ela me intriga e me faz pensar que tudo muda ao seu redor, enquanto ela está parada.

Tantas coisas aconteceram. Três anos, afinal, se passaram. Muito ri para ela e chorei. Muito contei meus casos de amores perdidos e achados. Muito reclamei que o meu emprego era ruim. Desabafos foram e vieram em meio ao dia e à madrugada, através de uma tragada, uma baforada, uma risada e uma lacrimejada.

domingo, 18 de julho de 2010

Here Is Not My Place!

O dia está cinza, hoje. A chuva chora meu sentimento mais profundo e oculto. Quero acreditar que amanhã o sol aparecerá, brilhando para mim, invadindo meu quarto, minha casa, minha vida, me fazendo sorrir, rir e chorar de alegria. Esperanças mentirosas dominam a existência do meu ser e fazem com que o desânimo que sinto, quando estou cansado, se torne companheiro de todas as horas.

Aqui não é o meu lugar e, mesmo sabendo disso, não posso fazer nada. Amarrado à uma camisa de força, minha vontade se esvai com os pingos da chuva e meus braços perderam suas forças com o vento. Minha voz grita e ninguém consegue me escutar, como se estivesse num ambiente isolado, talvez, numa ilha deserta.

Não posso mais ir contra mim mesmo, porém, descansar não é a melhor saída e, também, agir, neste comento, não é a solução. Esperar o dia de amanhã me cansa e faz eu pensar o quão inútil tem sido meu tempo. Não posso mais ser o que tenho sido e nem quero mais isso. Aqui não é o meu lugar.

Quero as asas de um pássaro livre, que voa por todos os lugares com a paciência e a calma de um relógio. Quero o lirismo mais apaixonante da vida moderna, anestesiado por uma saudade do que não tive. Quero a embriaguez do ébrio, que, naquele momento, é feliz e acaba esquecendo a sua realidade, do amanhã, do agora e do ontem, mesmo que esses sejam os motivos da sua bebedeira.

Não quero mais a doença cardíaca e mental da dependência vadia, mundana, sem vergonha da vida dos outros, mesmo que esses outros sejam próximos, tão próximos que são quase um só. Talvez se tudo fosse tão mais fácil. Talvez se tudo fosse tão menos complicado. Talvez se não existisse a palavra talvez para nos abrir nossos leques de opções sem sentidos, sem exatidões, sem nada.

Uma esperança cansada, desacreditada, triste, vem em meus pensamentos e me faz sonhar e quero que esse sonho nunca tenha fim e que o relógio nunca desperte e que o dia nunca nasça e que o amanhã se faça presente na realidade do meu sonho. Uma casa no campo. Uma casa na praia. Uma casa cidade. Um filho ou filha de cuca legal. Amigos, música e nada mais.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Vem.

Como a lua que chega devagar,
Como o mar que vem sem pedir,
Como o sol que queima sem querer,
Como a flor que brota desavergonhada.

Como o mundo que está a girar,
Como uma criança a rir,
Como o sol ao amanhecer,
Como o ébrio pela madrugada.

Assim, sem pedir, tu vem.
Assim, sem querer, abro meu sorriso.
Então, eu vejo quem é quem
E te dou meu sinal mais preciso.

Vem. Chega. Me chega.
Vem e me diz quem tu és.
Não quero ver e nem que vejas,
Ser feliz, apenas, é o que a gente quer.

domingo, 4 de julho de 2010

Vinícius de Moraes: saudade!


Dia 09 de Julho de 2010 o Brasil inteiro deve cantar "Onde Anda Você". Dia nove estaremos completando trinta anos de saudade do "poetinha", como gostava de ser chamado, Vinícius de Moraes. Sua vida profissional como diplomata no Uruguai era atribulada nos bares e nas madrugadas quentes dos bairros cariocas. Logo, simplesmente, foi ser feliz. Sua música cheia de gingado tipicamente brasileiro marcou a musicalidade do nosso país na década de 1960. Iniciava um grande movimento jamais visto: a Bossa Nova.

Um sambinha rasgado e uma melancolia quase que disfarçada por um gole de cerveja. É assim que conceituo a Bossa Nova. Um dos mentores desse movimento, Vinícius, boêmio, antes de mais nada, casou inúmeras vezes. Com diversos casos amorosos no currículo, um amante da vida e de um bom uísque, o poetinha nos deu a chance de pensar na vida, com suas letras cheias de aprendizado.

Vinícius cantou com diversas pessoas, mas sua parceria de maior sucesso foi com Tom Jobim. Amigos inseparáveis, viram em uma mulher, uma, apenas, todas as mulheres brasileiras e dela nasceu a música mais famosa do Brasil, gravada por Frank Sinatra: Garota de Ipanema. A garota? Ninguém mais, ninguém menos que Helô Pinheiro. Uma mulher linda e cheia de charme, imortalizada, também, junto com a melodia deste samba, famoso por cultuar a mulher brasileira.

Ninguém mais conseguia transformar o seu show em um parque de diversões como Vinícius de Moraes. Mas como sei disso se tenho apenas vinte e dois anos? Eu tenho DVD! (risos). Ele era simples. Um cara inteligente, culto, de sangue branco com uma mistura negra por amor e apego. Sempre usava expressões e palavras da religião da Umbanda em seus espetáculos. "Saravá", Tom Jobim. Era assim que ele venerava a existência das pessoas mais queridas.

Formado em Letras na universidade e em música desde criança, Vinícius nos deixou uma vasta, uma imensa, uma gigantesca herança. A primeira é que sem amor, sem paixão, sem tesão por alguém, não podemos ser ninguém. Amante inveterado, o poeta casou-se nove vezes. Sua primeira filha nasceu em 1940. A segunda é que não adianta sermos tristes. E, dentre tantas outras, a terceira: devemos amar a vida e o resto é somente o resto.

Trinta anos e suas letras, frases e poemas ainda são lembrados por todos os bons brasileiros que amam a inteligência, a cultura, a intelectualidade, o romantismo. Seu vocabulário sem pudor nos traz a força do amor e da paixão à tona. Nos faz ver o quão romântico ele era.

Vinícius nos força o pensamento de que as melhores coisas são aquelas mais simples. Sentar na praia à beira do mar com um amigo. Beber um pouco e contar dos nossos planos. Simplesmente conversar e deixar o sol cair, enquanto a cidade fria e cheia de stress corre. Tarde em Itapuã nos traz a idéia ideal de um dia perfeito. Tantas outras músicas.

Com seu cigarro e o seu peculiar copo de uísque na mão, Vinícius de Moraes cantou e encantou a todos com sua simplicidade e a sua capacidade de falar tão abertamente sobre o amor, da forma mais simples, mais honesta, mais humana, mais forte. Trinta anos sem a sensatez do boêmio, cantor, poeta, escritor, amigo, amante, diplomata (que na verdade nem foi) Vinícius.

"E por falar em saudade, onde anda você? Onde andam seus olhos que a gente não vê?"

O Problema São Os Jogadores.


A sala está cheia. Mais ou menos cinquenta jornalistas cheios de perguntas e um sentimento de perda, de desilusão. Um romantismo maquiado entre a revolta e a raiva. Um sentimento qualquer sem explicação, porém, nada bom. Uma dor. Uma derrota.

Então, um sujeitinho com um casaco preto, todo cheio de botões, assinado por um estilista famoso, senta na cadeira e começa a olhar todos os jornalistas que o cercam. Um olhar frio, triste. Um olhar de desculpas. Com o cabelo arrepiado e um ar de receio, autoriza o início das perguntas.

_ Dunga, qual foi o erro da seleção brasileira?
_ O problema todo é dos jogadores.
_ Mas, Dunga, se você tivesse substituído o Kaká pelo Nilmar, talvez pudéssemos ter ganhado.
_ É, mas o problema são os jogadores.
_ Dunga, o frio foi um potencial inimigo da seleção brasileira. Será que o calor que fez no dia da partida contra a Holanda prejudicou os jogadores?
_ O problema são os jogadores.
_ A sua relação com a Rede Globo está amenizada?
_ O problema são os jogadores.
_ Dunga, a sua permanência na seleção brasileira ficou difícil de ser concretizada depois dessa derrota.
_ O problema são os jogadores.
_ A Holanda, no primeiro tempo, deixou a bola rolar no campo de ataque do Brasil. No segunda tempo, foi ao contrário. O que aconteceu, afinal, com a seleção "Canarinho", pois o rendimento caiu muito no segundo tempo, nem parecia o mesmo time!?
_ É. O problema são os jogadores.
_ Dunga, quais os planos para o futuro.
_ Eu quero uma casa no campo, agora e um filho de cuca legal.
_ Dunga, o esquema tático atrapalhou?
_ O problema são os jogadores.
_ Mas você é o técnico. O problema não é só dos jogadores.
_ É, o problema são os jogadores que eu deixei no banco e não os aproveitei e nem os que eu não chamei para a Copa, por isso, o problema são os jogadores que não jogaram.