terça-feira, 16 de março de 2010

Big Cultura Brasil


Fútil é achar que o programa “reallity show”, da Globo, Big Brother Brasil é fútil. Ignorante é aquele que ignora certas coisas, certos assuntos e certas realidades e devemos afirmar que qualquer pessoa que se desfaz de um programa como este é um ignorante fútil.

Não trabalho na Globo, embora adoraria. Não sou parente de nenhum participante de nenhuma das edições do BBB. Não conheço pessoalmente o Pedro Bial, enfim, não tenho vínculos com nada e, talvez, por isso, me sinto na obrigação de expressar o sentimento de cumplicidade que tenho com o BBB.

Nós, seres humanos, sabemos quando é a hora de chorar, de rir, de beber, de ir no banheiro, de fazer as coisas simples da vida ou as nem tão simples assim. Nós, seres humanos, sabemos e conhecemos nossos erros e nossas virtudes. Nós, seres humanos, conhecemo-nos como ninguém e até podemos e conseguimos prever certas atitudes que iremos tomar.

Nós, da raça humana, somos tão fracos e tão simples. Tão delicados e tão rudes. Tão meigos e tão estúpidos. Tão nós. Não precisamos de ninguém, aqui fora, para dizer que o choro por não ter escutado a voz da mãe deve parar. Pois, nós, aqui de fora, não sentimos tanta falta de um simples “alô” da mulher que nos colocou no mundo pelo simples fato de termos ela todos os dias ou, pelo menos, para quem ainda tem mãe, ter a liberdade de telefonar quando quiser e ouvir a voz dela.

Também, não choramos quando ficamos mau cheirosos e nem nos preocupamos quando acordamos escabelados e sem maquiagem, com a cara parecendo um maracujá de gaveta ou qualquer outra fruta que lembre algo assombroso. Não justificamos nossos julgamentos para certas pessoas, talvez, por essa pessoa nunca conviver ou ter convivido conosco, fazendo com que seja impossível não olhar para ela todos os dias.

Não precisamos justificar atitudes indesejadas. Não precisamos nos esconder ou esconder certos sentimentos por medo de que alguém possa interpretar erradamente. Também, não temos um público de milhões e milhões de pessoas, que irão decidir se o nosso comportamento está sendo coerente, quando temos a certeza de que está. Não temos um cara dizendo sermões e sermões para justificar e amenizar o sentimento de desagrado do público para conosco. Isso deve ser engolido por nós, pois quem já não trabalhou ou conheceu alguém que não gostava de nós?

Não ganhamos prêmios, não recebemos a visita da Ana Maria Braga para fazer e almoçar conosco. Não ganhamos um camarote no Sambódromo da Sapucaí no primeiro ou segundo desfile. Em compensação, ganhamos o aprendizado todos os dias , depois da novela das nove. Ganhamos a cultura que somente o povo brasileiro pode nos oferecer, sem americanismos. E o fato de achar impossível a futilidade do programa é por puramente ter a certeza de que existem muitos “eus” ali dentro com os participantes, pois eu choro, eu bebo, eu me divirto, eu falo besteira, enfim.

Eu sou como eles em diversas atitudes. Eu sofro quando a minha mãe está longe. Eu sofro com saudade do meu pai. Eu choro por saudade do meu amor. Eu choro por tantas coisas que eles também choram. Eu dou risada quando bebo. Eu danço quando eu bebo. Eu brinco quando eu bebo. Eu bebo como eles. Eu acordo de mau humor como eles. Eu brinco de guerra de travesseiros como eles. Eu faço tantas coisas como eles e, justamente, por isso, que eu não posso caracterizar o programa como sendo fútil, pois, se o fizesse, estaria me chamando de fútil, porque ali é a verdadeira humanização do ser humano para todo mundo e todo o mundo assistir.

Ali dentro da casa é sentimento e só sentimento. Seja ele de raiva, de carinho, de saudade, de amor, de tesão, de fome, de frio, de compaixão, de amizade, seja o sentimento que for. E, nós, da raça humana, não somos sentimentos, também? Ou será que existimos somente com a razão enraizada em nós mesmos que não conseguimos agir e muito menos pensar com a emoção? Não! É impossível uma pessoa não expressar o sentimento que há dentro dela em qualquer circunstância da vida e no BBB não poderia ser diferente, visto que são pessoas, como nós, que estão confinadas.

Então, deixemos de ser seres irracionais e sejamos racionais e sentimentais para sabermos que podemos aprender com os erros dos outros e estes outros são os participantes. Podemos aprender que o amor, pode, realmente nascer em menos de noventa dias, pois vários participantes já namoraram durante um bom tempo e quem vai dizer que durante este baita tempo ou somente durante o tempo de confinamento não existiu amor? Podemos aprender que viver atrás de dinheiro não é tudo e que vale bem mais apena viver atrás de dinheiro e também, viver, sem deixar as coisas boas da vida de lado.

Aprendemos que não devemos ser outra pessoa, pois algum dia a máscara irá cair e nossa má conduta será analisada e julgada. Devemos ser nós mesmos, custe o que custar. Devemos ser humanos racionais e sentimentais, como os participantes do BBB.